O que está em jogo é a possibilidade de um calote sem precedentes da dívida norte-americana, considerada a mais segura do mundo. Líderes republicanos e democratas buscavam ansiosamente o apoio necessário nesta segunda-feira (29) para que uma lei, que tenta evitar um calote catastrófico dos Estados Unidos, tenha apoio suficiente no Congresso.
A uma semana da data que, segundo o Departamento do Tesouro, marcará o momento em que os Estados Unidos começarão a ficar sem recursos (5 de junho), o projeto originado em um acordo bipartidário liderado pelo presidente Joe Biden e pelo presidente da Câmara de Representantes, Kevin McCarthy, enfrenta a rejeição dos democratas progressistas e de republicanos.
Fachada do Capitólio dos EUA, sede do Congresso americano, em 11 de fevereiro de 2021
Erin Scott/Reuters
Republicanos ultraconservadores consideram que McCarthy deveria ter garantido neste acordo cortes ainda maiores nos gastos públicos, em troca do aumento do limite da dívida dos Estados Unidos. A medida é necessária para evitar uma moratória e garantir o funcionamento do Estado federal.
Ao mesmo tempo, a ala mais à esquerda do Partido Democrata no poder também manifesta sua insatisfação com a decisão de Biden de aceitar cortes nos gastos públicos.
Biden disse, nesta segunda, que se sente “muito bem” com relação às possibilidades do projeto de lei e pediu aos democratas que tenham alguma hesitação que “falem” com ele.
Táticas protelatórias
Biden e McCarthy disseram estar confiantes em que o texto será aprovado na quarta-feira (31) na Câmara, dominada pelos republicanos, antes de ir para o Senado, de maioria democrata. Mas o grupo dos insatisfeitos pode tentar adiar o processo.
Os dois líderes negociaram durante semanas, e o que está em jogo continua sendo a possibilidade de um calote sem precedentes da dívida americana, considerada a mais segura do mundo. Um cenário que pode abalar as finanças mundiais.
Kevin McCarthy e Biden na Casa Branca
Leah Millis/Reuters
O acordo bipartidário suspende o chamado “teto” da dívida federal, hoje em US$ 31,4 trilhões (em torno de R$ 157 trilhões na cotação atual), por dois anos, o suficiente para atravessar a próxima eleição presidencial de 2024 e permitir que o governo siga tomando dinheiro emprestado e continue solvente.
Com isso, Biden obtém a tranquilidade de não passar por outra crise similar durante sua campanha de reeleição, e os republicanos, alguns limites nos gastos públicos durante esse período pré-eleitoral.
Concessões mútuas
Os dois campos reivindicaram a vitória após o acordo.
“Eles podem tentar fazer parecer que fiz algum tipo de compromisso em relação ao teto da dívida. Não fiz”, disse Biden à imprensa. Já McCarthy chamou o acordo de “série histórica de vitórias”.
Na realidade, o acordo representa uma série de concessões mútuas. Inicialmente, Biden se recusou a negociar com os republicanos, os quais acusou de tomarem a economia como refém.
E os grandes cortes que os republicanos queriam não aparecem no texto, apesar de os gastos — salvo no caso da Defesa – permanecerem estáveis no ano que vem e subirem apenas em 2025.
Após a divulgação do texto final no domingo (28), os membros da Câmara terão 72 horas para estudá-lo antes de votar.
A estreita maioria de McCarthy na Câmara exigirá um apoio significativo dos democratas para equilibrar a dissidência na oposição.
No Senado, existe a possibilidade de os senadores tentarem obstaculizar a aprovação do projeto de lei com emendas que deixarão a conclusão do processo perigosamente perto de 5 de junho.
A primeira nota estridente da oposição republicana foi do representante (deputado) Dan Bishop, membro da bancada ultraconservadora House Freedom Caucus, que tuitou um emoji de vômito e criticou McCarthy por alcançar “quase zero”.
Ao mesmo tempo, um membro do House Progressive Caucus, Ro Khanna, afirmou que muitos democratas se perguntam se vão apoiar o acordo.
“O acordo representa um compromisso, o que significa que nem todos conseguem o que querem. Essa é a responsabilidade de governar”, resumiu Biden.
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