Veja os municípios brasileiros em que mais da metade da população se autodeclara quilombola. Esta é a primeira vez que o IBGE produz estatísticas oficiais sobre a população quilombola. População quilombola no Brasil: saiba os principais dados do Censo 2022
A cidade de Alcântara, no Maranhão, tem 84% da população composta por quilombolas. Esse é o maior percentual registrado em municípios do país, segundo dados inéditos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (27).
De acordo com o “Censo Demográfico 2022 – Quilombolas”, em cinco cidades brasileiras a maioria da população é quilombola, sendo duas delas no estado do Maranhão:
Alcântara (MA) – 84,57%
Berilo (MG) – 58,37%
Cavalcante (GO) – 57,08%
Serrano do Maranhão (MA) – 55,74%
Bonito (BA) – 50,28%
Já em números absolutos, as duas primeiras cidades estão na Bahia, estado que concentra o maior número de pessoas que se autodeclaram pretas do Brasil. A capital Salvador, por exemplo, tem mais de 15 mil pessoas que se autodeclararam qilombolas:
Senhor do Bonfim (BA) – 15999
Salvador (BA) – 15897
Alcântara (MA) – 15616
Januária (MG) – 15000
Abaetetuba (PA) – 14526
Os quilombos de Alcântara
Comunidade quilombola em Alcântara, no Maranhão.
Divulgação/Conaq
A cidade de Alcântara (MA) figura tanto nas que possuem maior percentual da população quanto em números absolutos.
Em abril deste ano, o Estado brasileiro reconheceu que violou direitos de comunidades e emitiu um pedido de desculpas às populações quilombolas deslocadas forçosamente após a construção da Base de Lançamento de Foguetes, na década de 1980.
Alcântara fica numa península com localização privilegiada para o lançamento de foguetes e satélites, próxima à linha do Equador.
A construção base, porém, levou um território de 52 mil hectares a ser declarado como de “utilidade pública”, segundo a Comissão Internacional de Direitos Humanos, e as disputas territoriais seguem até hoje.
O advogado-geral da União, ministro Jorge Messias, reconheceu o fato de o Brasil não ter finalizado, até hoje, o processo de demarcação do território quilombola de Alcântara e a demora das instâncias judiciais e administrativas para permitir que as famílias pudessem fazer uso das terras demarcadas.
Veja a declaração de reconhecimento de violações na íntegra
Na mesma ocasião, em abril, o ministro disse ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou que a titulação progressiva das famílias quilombolas seja finalizada em até dois anos, sendo iniciada imediatamente após a conclusão do grupo de trabalho que será montado para acompanhar o caso.
Territórios delimitados são aqueles com delimitação formal no Incra ou órgãos fundiários em estados e municípios até 31 de julho de 2022. Eles foram estabelecidos na Constituição para garantir reprodução física, social, econômica e cultural da população quilombola.
Primeiro Censo Quilombola
Esta é a primeira vez que o IBGE produz estatísticas oficiais sobre a população quilombola no Censo, por meio da autodeclaração.
Historicamente, os quilombos eram espaços de liberdade e resistência onde viviam comunidades de pessoas escravizadas que fugiram entre os séculos XVI e XIX. Cem anos depois da abolição da escravidão, a Constituição de 1988 criou a nomenclatura “comunidades remanescentes de quilombos” — expressão que foi sendo substituída pelo termo “quilombola” ao longo dos anos.
Uma pessoa que se autodetermina quilombola tem, portanto, laços históricos e ancestrais de resistência com a comunidade e com a terra em que vive.
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