Para compreender melhor o papel e as potencialidades do agronegócio brasileiro, convidamos para uma entrevista Alberto Ajzental, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas IF
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Uma coisa é fato: o agronegócio é um dos pilares da economia brasileira. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP, em 2022 o agronegócio representou 24,8% do PIB do Brasil. Isso significa que o setor foi responsável por um em cada quatro reais dos bens e serviços finais produzidos no país naquele ano. Apesar dessa importância, muitos aspectos do agronegócio, como a posição do setor perante o comércio mundial, sua relação com a pauta de sustentabilidade e suas potencialidades, ainda são pouco conhecidos. Para nos ajudar a entender um pouco mais sobre realidade e os caminhos desse setor, convidamos Alberto Ajzental, professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas, para conversar com a gente. Confira!
1) O agronegócio sempre foi muito forte no Brasil. Qual é a posição que temos hoje com esse setor no cenário mundial? Somos, de fato, uma liderança?
O Brasil, segundo a Organização Mundial do Comércio (2021), é o 4º maior exportador de produtos agrícolas, com 5,2% de participação. Não vamos cogitar sobre a colocação no ranking, mas com certeza o país poderia, necessariamente, melhorar sua participação no mercado exportador aprimorando suas práticas. Sabemos que o mundo está superlotado e a crise econômica advinda da pandemia de COVID-19 mostrou que a humanidade enfrenta gargalos, principalmente em alimentação e energia, daí os altíssimos aumentos de preço percebidos. O Brasil é privilegiado em extensão territorial, terras férteis e tem um bom regime de chuvas e de insolação, ou seja, tem ótimas condições para plantio e colheita. Pecamos com aquilo que depende de nós, em termos de investimento e gestão, como estocar e transportar nossas riquezas. Assim, o país deve aprimorar e tornar mais eficiente esse setor. É um setor de baixo valor agregado, mas não menos importante, pelos seguintes motivos: ele tem seu espaço na economia nacional e não necessariamente compete com os demais setores, como indústria e serviços.
2) Poderia nos contar um pouco sobre os principais produtos agropecuários exportados pelo Brasil e quem são os principais mercados consumidores que atendemos?
Os principais produtos agrícolas exportados em valor são: soja, açúcares e melaços, carne bovina, farelo de soja, carnes de aves e celulose. Os principais países importadores são China, Estados Unidos, Argentina, e Holanda, que é a porta de entrada para a Europa.
3) Em sua avaliação, instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) têm importância no desenvolvimento tecnológico do setor no país?
Com certeza. O aumento da eficiência vem de conhecimento, de experiência, de pesquisas de campo e em laboratórios. A Embrapa já deu muitas provas de sua excelência e de avanços para a produção nacional. O conhecimento nunca para, está em constante evolução. Assim, investir nessa área é importantíssimo para que esse setor continue a evoluir.
Alberto Ajzental
Acervo pessoal
4) Você diria que as políticas públicas voltadas ao agronegócio no país têm um desenho eficiente?
Com certeza não têm um desenho eficiente. O Brasil não é conhecido por pensar o futuro, traçar estratégias, nem as implementar a contento. O poder público é imediatista, busca atalhos e soluções fáceis, o que reflete, em grande parte, nossa própria cultura.
5) Algumas pessoas têm a percepção de que os interesses do agronegócio podem se chocar com a preservação do meio ambiente. Essa percepção tem algum fundamento?
Tem fundamento na medida em que uma parte dos produtores agrícolas não respeita o meio ambiente e acaba sujando a imagem da outra parte que tem consciência ambiental. Felizmente essa consciência está mudando e muitos produtores percebem que os recursos naturais são finitos, que devemos preservar a qualidade do solo, das águas e seus mananciais e, por que não dizer, do ar. Inclusive, dado o caráter exportador da nossa produção, cada vez mais os países importadores, preocupados com as práticas de degradação da natureza, levantam barreiras para aquisição de produtos daqueles que fazem dessa maneira.
6) Em sua avaliação, o agronegócio brasileiro está alinhado com princípios de sustentabilidade ambiental e social? Há aspectos a serem aprimorados?
Há um início de preocupação ambiental, mas ainda há muito a ser feito para que áreas degradadas e abandonadas sejam recuperadas.
7) Há grandes desafios e dificuldades a serem enfrentados pelo setor para a manutenção de sua competitividade global?
Com certeza. O país precisa estabelecer melhor suas estratégias e ter capacidade de implementá-las. Faltam recursos e incentivos para que isso ocorra tanto de forma satisfatória quanto em prazo satisfatório.
8) Na sua opinião, quais são as principais potencialidades e os caminhos mais promissores do agro brasileiro?
O Brasil deve evoluir muito com aplicação de tecnologia. Imagens por satélite, obtenção contínua de dados, leitura e interpretação que proporcionem melhor utilização de recursos como terra, água, defensivos e fertilizantes, inclusive com uma utilização mais estratégica dos implementos, economizando em equipamentos e combustíveis. Essa é a revolução necessária. A estocagem e o transporte continuam sendo ineficientes. Quer seja pelas péssimas condições das estradas, longas distâncias, consumo de equipamentos, combustíveis e tempo desperdiçado para carregamento e descarregamento entre os modais.
9) Por fim, para você, inteligência financeira é…
Inteligência financeira é respeitar tempo e capital. Dois recursos escassos que devem ser bem aplicados, evitando desperdício.
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Aspas em destaque: “O Brasil é privilegiado em extensão territorial, terras férteis, um bom regime de chuvas e de insolação, ou seja, tem ótimas condições para plantio e colheita.”
O Brasil é Agro: desafios e oportunidades do setor no país
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