Galípolo no BC: economistas veem nome como ‘enviado do governo’ para pressionar por queda de juros


Para analistas ouvidos pelo g1, atual secretário-executivo da Fazenda é homem de confiança de Haddad e deve abrir divergência nas decisões de política monetária; junto aos outros nomeados, terá desafio de construir credibilidade da diretoria da autarquia na segunda metade do governo Lula. O novo secretário da fazenda Gabriel Galípolo durante coletiva de imprensa , na cidade de Brasília, DF, nesta terça-feira, 13.
FáTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
A indicação de Gabriel Galípolo para a diretoria de política monetária do Banco Central, anunciada nesta segunda-feira (8), chegou a ao menos um consenso entre economistas ouvidos pelo g1: ele deve trabalhar internamente pela queda da taxa básica de juros do país.
Agora, se essa é uma característica positiva ou negativa, depende da visão de cada um dos analistas consultados.
Há quem acredite que sua presença forma uma “bancada de oposição” à diretoria do BC, que geraria ruídos e mais imprevisibilidade dentro da instituição.
E há quem creia que sua presença indique o rumo que o BC tomará nos próximos anos, e abre desde já uma discussão sobre o patamar de juros no país.
Apesar da boa relação da equipe econômica com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, Galípolo é encarado por boa parte dos analistas econômicos como um enviado do governo federal à diretoria do BC. E dali partem os principais ataques à condução dos juros.
Por outro lado, seu nome sempre foi ventilado como possível sucessor de Campos Neto ao fim do mandato, em 2024. Sob essa ótica, é uma oportunidade de agentes financeiros observarem como será o posicionamento do BC na segunda metade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma nova direção para o BC
Para Tony Volpon, ex-diretor do BC, a indicação de Galípolo representa o início de uma “mudança de regime” no BC, que sempre esteve “sob o domínio de pessoas ligadas à PUC-Rio [escola de economistas ortodoxos]”.
“Agora, vamos ver uma transição para a Unicamp e PUC-SP [escola mais heterodoxa]. A questão a ser resolvida é o que isso representa para a política monetária, especialmente para o compromisso com a meta de inflação.”
“Não há nada errado nessa transição, mas agora o desafio do Galípolo e das pessoas a serem nomeadas no final deste ano é construir credibilidade até a chegada de um deles à presidência do BC”, diz Volpon
Segundo Paula Magalhães, economista-chefe da A.C. Pastore, a indicação de Galípolo sinaliza que o governo preferiu colocar alguém mais alinhado com seus interesses de baixar juros do que buscar alguém qualificado para a posição.
“Nesse sentido, não acho uma boa escolha. Haddad e outros membros do governo argumentam que não há inflação de demanda. Galípolo tem sido mais reservado ao falar do BC, mas fica difícil acreditar que ele pensa diferente”, diz a economista.
Haddad anuncia secretário da Fazenda Gabriel Galípolo para assumir diretoria de política monetária do Banco Central
Temor pelo desalinhamento
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, não acredita em grandes mudanças no curto prazo, mas diz que a indicação é um sinal de “guinada no sentido contrário do que o BC tem feito nos últimos anos”.
“Há um caminho de inflação mais elevada nos próximos anos que poderá ocorrer com as trocas [dos outros diretores] que poderão vir pela frente. Isso pode dificultar a queda da expectativa de volta da inflação de 4% para 3%”, afirma.
Vale entende que os primeiros sinais de divergência devem aparecer nas decisões de juros, que podem passar a não ser mais unânimes em virtude da diferença da visão de Galípolo em relação aos demais membros do Comitê de Política Monetária (Copom).
“Vamos perceber mais à frente as mudanças também nas expectativas de inflação, que podem desancorar ainda mais da meta de 3%”, diz Vale.
Já Nelson Marconi, economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), faz parte do time que gosta da indicação, e acha importante ter uma voz dissonante dentro do BC, para que a queda da taxa de juros seja melhor avaliada.
Para ele, o currículo de Galípolo, que presidiu o Banco Fator de 2017 a 2021, trazem os requisitos para a nova posição no BC.
“Os mandatos dos cargos do BC não são coincidentes com os do governo, e isso implica nessa dinâmica de pensamentos diferentes dentro da diretoria”, diz Marconi.
Quem é Gabriel Galípolo?
Galípolo é formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP).
Professor universitário, deu aulas de 2006 a 2012 nos cursos de graduação da PUC-SP, onde se formou.
Foi presidente do Banco Fator, instituição com tradição em programas de privatização e parcerias público-privadas (PPPs), de 2017 a 2021.
O economista esteve à frente do banco durante os estudos para o processo de privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae).
O desenvolvimento de um modelo de parceria público-privada para a Cedae começou em 2018 pelo consórcio liderado pelo Banco Fator, junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Especialista no assunto, Gabriel Galípolo ministrou aulas sobre PPPs e concessões na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp).
Em sua atuação na gestão pública, foi chefe da Assessoria Econômica da Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, em 2007, na gestão do então governador José Serra (PSDB).
No ano seguinte, ainda durante governo do tucano, assumiu o cargo de diretor de Estruturação de Projetos na Secretaria de Economia e Planejamento de São Paulo.
Em 2009, fundou a Galípolo Consultoria, onde trabalhava até chegar ao Ministério da Fazenda.

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